Briga entre irmãos: veja como chegar a resultados positivos.

por Fátima Sgarbi

Algumas crianças disputam entre si a atenção dos pais, o melhor lugar, a melhor programação da TV, etc. Motivo de brigas que parecem não ter fim. Como essas experiências podem influenciar seu modo de lidar com a vida?

Vamos observar o seguinte diálogo:  

- "Mãeeeee! O Lucas não qué me dá o controle remoto!"

- "Mas o João só qué vê desenho de bebezinho! Assim não dá!"  

- "Dá esse controle pra ele e pára de criar confusão! Você é o mais velho...tem que entender seu irmão!" - interfere a mãe fazendo o melhor que pode, sem saber ao certo como agir.

O filho mais velho

Lucas joga o controle no sofá. Vai para o seu quarto batendo o pé, bufando e choramingando.
Provavelmente experimenta agora, frustrado, sentimentos de raiva, decepção e mágoa. Pode sentir-se punido e azarado por ser o mais velho! Acha que sua mãe o vê como um menino mau, que cria confusão, incapaz de entender alguém. Derrotado! Com a repetição constante dessas experiências, pode tornar-se um jovem inseguro, instável, mau humorado, ressentido! Com dificuldades para se relacionar com seus os pais e com seus pares.

E o irmão mais novo

João agora reina tranquilo, "vencedor" e sozinho no sofá da sala. Satisfeito com sua vitória, aprende que seu espaço está garantido com a vantagem de ser o mais novo. Com a frequência dessas experiências, pode perigosamente interpretar que tem “ganhos” ao se vitimizar (posição daquele que age como o “coitadinho”)! Aprende a ser compreendido ao invés de também compreender os motivos do outro, porque não foi incentivado a ter empatia. Uma falsa vitória, que à medida que se repete...se repete...se repete, poderá torná-lo uma pessoa onipotente, o centro das atenções, o rei da casa!

Os resultados podem ser melhores

Teria sido uma oportunidade de aprendizagem enriquecedora para os dois irmãos. Mas, mesmo com a boa intenção da mãe em ajudar, acabou sendo uma experiência de rivalidade e competição entre eles!

O que poderia ter sido feito para que os resultados fossem diferentes e positivos?
Pai e mãe devem representar as figuras de autoridade na família pois é uma hierarquia necessária ao psiquismo das crianças. Use, sem autoritarismo.

Peça ou pegue o controle remoto (com firmeza, sem raiva e agressividade). Se coloque ao nível dos olhos das crianças e diga algo como: “terão o controle de volta assim que mostrarem colaboração um com o outro. O que podem combinar para que fique bom para os dois?” Espere pelo que irão decidir. Pode ser que nessa hora só consigam chorar e ir para o quarto. Pode ser que decidam assistir meia hora o desenho que cada um gosta, alternando. Podem continuar brigando. A decisão é deles. Mas terão um ganho ou uma perda. Se chegarem a um consenso que mostre respeito, colaboração e possibilidade de esperar, você devolve o controle remoto. Caso contrário não e cada um vai para seu quarto até que se acalmem. E um detalhe bem importante: a TV só será ligada novamente se não for motivo de briga!

A sugestão acima é uma entre outras possibilidades de ação em momentos de conflito. Há muitas variáveis a se levar em conta, a idade, a maturidade das crianças e a capacidade dos pais para lidar com o stress, por exemplo. Portanto, é apenas uma linha de raciocínio que pode ser aplicada em outras situações, não uma receita. Todos sabemos que não existe manual de instruções sobre como agir com nossos filhos. Não existe um único jeito. Porém, é necessária uma intervenção firme, clara e amorosa por parte dos pais.

Tenha uma meta ao interferir

A meta é que se dê a eles a oportunidade de resolver o problema com empatia, cooperação e flexibilidade! Você sabe que nenhum deles vai olhar para você e dizer “obrigada por tirar o controle remoto e me levar a pensar para resolver”! Pode até ser que digam que você é a pior mãe ou o pior pai do mundo! Mesmo que fiquem emburrados, saberão como agir melhor a cada evento difícil e você agiu sem privilegiar um ou outro filho.

Quando nossos filhos são estimulados a pensar e criar soluções para os conflitos, crescem emocionalmente mais autônomos, seguros, livres e equilibrados.
Por Fátima Sgarbi - CRP 08/04114