A VIDA SECRETA DO TDAH COMO PENSA O HIPERATIVO/IMPULSIVO (PARTE 2/4)

por Fátima Sgarbi

A vida mental das crianças e adolescentes com TDAH, do tipo predominantemente Hiperativo/Impulsivo, é intensa! Incrivelmente intensa...e difícil!

Isso ocorre porque há um déficit nas funções executivas, que são processos no cérebro funcionando como ferramentas integradas umas as outras. Elas são reponsáveis pela habilidade para planejar e atingir metas, “filtrar” e inibir comportamentos impulsivos, avaliar se as estratégias usadas para a solução de problemas foi eficiente ou não para aprender com as experiências, tomar decisões, manter a motivação pelo tempo suficiente para alcançar os objetivos, etc.

Na prática, há uma forma de pensar, agir e sentir que é frequentemente incompreendida pelos que convivem com o Hiperativo. Uma vida mental secreta e peculiar! Um modo de funcionar que de forma geral causa prejuízo nos relacionamentos ou na aprendizagem.

O Hiperativo vive em meio ao que se pode chamar de uma confusão mental. Um turbilhão de pensamentos, desejos e emoções que se misturam, onde muitas...muitas...muitas coisas são pensadas ao mesmo tempo. Porém, poucas coisas são claras e definidas. Então, como tomar alguma decisão assertiva com tanto estímulo competindo na sua cabeça!?

O cérebro falha ao tentar inibir os impulsos e isso cria grandes problemas.

Todos os pensamentos disputam o mesmo espaço de atenção. Tudo parece ter o mesmo grau de importância. Ir à casa do amigo, é tão importante quanto jogar bola no campinho atrás da casa, mesmo que sozinho, tão importante quanto jogar vídeo-game e se atirar na piscina pra brincar. Como é difícil eleger qual a prioridade no momento, essas vontades todas ficam permeando o cérebro e geram mais ansiedade e agitação.

Funciona mais ou menos assim: é difícil decidir. Mas...ufa! Decidiu ir à casa do amigo! Só que não sabe lidar com perdas e pra decidir por uma das opções precisa abrir mão das outras. Bom, então vai para casa do amigo e se algo “minúsculo” der errado lá...xiiiiiiiii...volta reclamando que perdeu a piscina, o futebol, o vídeo-game!

Não aproveita nem aqui, nem lá. Dificilmente está no aqui e agora. Nada parece suficiente. Precisa mais. Acha que precisa mais tempo, mais brincadeiras, mais atenção! Se agita na cadeira, pula, corre, faz brincadeiras barulhentas. Mexe em tudo, como se os olhos estivessem na ponta dos dedos!

Por que o hiperativo é teimoso e insistente?

Teima porque como pensa que ainda não brincou o suficiente não é hora de escovar os dentes ou de fazer a lição. Teima porque não aceita as regras que o limitam. Teima para se opor porque quer ter razão.

É pouco detalhista e rápido nas tarefas porque em geral, para um impulsivo, o mais importante é terminar logo o que precisa fazer, para ir correndo "abraçar" as outras milhões de coisas que tem em mente.

Alguns problemas de socialização ocorrem pela dificuldade em pensar antes de falar ou agir. É reativo porque há falhas na habilidade de avaliar as consequências antes de agir. Por isso, é comum estar perto de confusão.

Tudo isso está relacionado ao déficit nas funções executivas. Tem causa neurológica. O hiperaitvo precisa ser avaliado com muito critério, porque para um tratamento responsável é fundamental diferenciar a hiperatividade da falta de limites consistentes.

Se diagnosticado e tratado no tempo certo, o Hiperativo tem boas chances de superar as dificuldades próprias desse quadro. Com isso, pode tornar-se agente de mudanças positivas na sociedade. É inteligente e muito criativo. Capaz de implantar novas ideias porque tem a ousadia, a coragem e a energia necessárias para a transformação!

Por Fátima Sgarbi - CRP 08/04114