A VIDA SECRETA DO TDAH – COMO PENSA O TIPO DESATENTO (PARTE 3/4)
- por Fátima Sgarbi

O comportamento de crianças e adolescentes com TDAH, predominantemente Desatento, muitas vezes é confundido com descuido, enrolação ou preguiça.
O desatento se perde no meio dos seus próprios pensamentos. Há, sem dúvida, um mundo próprio nesse jeito de pensar tão criativo, curioso e interessante. Um modo todo especial de ver a vida, onde o tempo não voa, não há pessoas apressando-as em tempo integral e onde as coisas parecem mais interessantes e envolventes do que as exigências da vida real.
Da mesma forma que ocorre com o predominantemente Hiperativo/Impulsivo, há um déficit nas funções executivas. Então, quando o DESATENTO entra em seu próprio mundo mental, não há uma ferramenta eficaz no cérebro para indicar que é hora de deixar de pensar em tal coisa pra terminar a tarefa ou o que precisa ser feito. Em geral quando nós dispersamos, temos uma “margem” no pensamento onde reservamos nossas responsabilidades e dizemos a nós mesmos: “melhor parar de sonhar com isso e trabalhar...”. O DDA não tem esse dispositivo mental. Precisa treinar muito... muito...mas muito mesmo para desenvolver um pouco dessa habilidade e abandonar os devaneios.
É assim que pensa o DDA:
Imagine um terreno onde tem duas casas. Entre as casas existe um pequeno pomar, pedras, grama, borboletas, formigas...Numa das casas moram os pais, na outra, os tios. A mãe pede pra que o filho busque uma xícara de açúcar na casa da tia. É só atravessar o quintal.
Ok... lá vai ele...No meio do caminho encontra um pequeno galho! Huuuummm!...ele pega esse galho...senta por ali mesmo...ah...olha só! Um pedacinho de plástico!..."Já sei!"...mexe aqui, enrosca ali...amarra lá...! oba! Um pedaço de plástico amarrado nas pontas do galhinho e pronto! Um paraquedas!!! Que legal! Sai gritando pra casa da tia...mas pra mostrar sua arte, não pra pedir o açúcar!
Provavelmente vai levar uma bronca porque não fez o que foi pedido! Mas ele ficou tão feliz com a própria invenção! Tudo por água abaixo! A descoberta não parece tão boa assim! Mais importante era cumprir com o que foi pedido! E assim, absolutamente sem percebermos, vamos acabando com a autoestima e a criatividade das nossas crianças.
Essa criança esqueceu o comando, não por desrespeito ou má-criação, mas sim porque há um déficit na capacidade de manter o foco naquilo que é prioridade. É uma condição neurológica, assim como a desorganização. Pula linhas do caderno, pula folhas, daí a matéria de ontem fica depois da matéria que copiou hoje, porque não se dá conta de onde escreveu. Esquece no armário do colégio o caderno que deveria trazer pra casa para estudar, já que terá avaliação.
Escreve lembretes na agenda ou post-it mas...xiiiiiiii....onde largou a agenda? Em que caderno colou o post-it? Difícil administrar, porque anota pra não esquecer e esquece onde anotou!
Se envolve de coração num projeto interdisciplinar quando o tema lhe parece interessante, já que o Desatento tem algo chamado tecnicamente de hiperfoco ou hiperconcentração. Participa, se entusiasma. Faz sua parte e fica satisfeito de ter contribuído. Mas na hora de se reunir com os colegas, se dá conta que esqueceu de trazer o pendrive onde está arquivado todo seu esforço! Pronto, carimbado como irresponsável!
É por isso que o DDA se desmotiva e cansa mais facilmente. É um esforço constante pra vencer algumas dessas dificuldades que são verdadeiramente limitantes tanto nos relacionamentos quanto na aprendizagem.
O DDA quando avaliado e tratado com seriedade e no tempo certo, consegue melhorar seu nível de atenção, sua autoestima e o desempenho social e acadêmico. Descobrindo o que ama fazer, pode se utilizar da capacidade de hiperfoco e se destacar naquilo em que seu coração bate mais forte pra realizar!
Por Fátima Sgarbi - CRP 08/04114